Áustria quer abrir consulados para italianos do Alto Ádige
A ideia é voltada a falantes de alemão e ladino
Áustria anunciou nesta quarta-feira (18) um projeto para abrir seus consulados no exterior aos membros das comunidades de língua alemã e ladina da província autônoma de Bolzano (Alto Ádige), no extremo-norte da Itália.
O texto prevê que, caso essas pessoas tenham alguma dificuldade em um país terceiro, elas possam se dirigir a um consulado austríaco, mesmo que a nação em questão tenha uma representação italiana.
A proposta foi apresentada pelo governo conservador do chanceler Sebastian Kurz, que é apoiado pelo ultranacionalista Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ), principal defensor da ideia de conceder cidadania aos tiroleses do sul (como são chamados os moradores do Alto Ádige) falantes de alemão ou ladino.
As diretrizes da União Europeia preveem que cidadãos do bloco possam se dirigir ao consulado de qualquer Estado-membro caso não haja uma representação de seu próprio país. No entanto, o projeto de Viena vai além, ao permitir que tiroleses do sul procurem um consulado austríaco mesmo se houver um italiano na mesma nação.
Se a iniciativa virar lei, os “alemães” e “ladinos” do Alto Ádige poderão recorrer às autoridades da Áustria em caso de prisão, incidentes graves, doença ou crimes.
“O governo austríaco está fazendo um gesto arriscado em relação aos cidadãos italianos de língua alemã ou ladina. Temos proteções avançadíssimas para nossas minorias, que não precisam de tutores suplementares”, criticou a deputada de centro-esquerda Debora Serracchiani.
Por sua vez, o governador da província de Bolzano, Arno Kompatscher, elogiou a medida. “Para os tiroleses do sul no exterior, será um ponto de apoio na própria língua materna”, afirmou.
Em dezembro passado, o governo Kurz apresentou uma proposta para dar cidadania aos moradores do Alto Ádige que se autodeclaram alemães ou ladinos no formulário de pertencimento linguístico. O projeto incomodou a Itália, que teme o renascimento dos sentimentos separatistas na região.
Bolzano é a única divisão administrativa do país onde os que têm o italiano como língua materna são minoria (aproximadamente um terço dos moradores). Ela faz parte da região de Trentino-Alto Ádige e pertencia ao Império Austro-Húngaro, mas foi cedida ao Reino da Itália após a Primeira Guerra Mundial.
Nos anos do fascismo, Benito Mussolini tentou “italianizar” Bolzano à força, mas sem sucesso. Atualmente, a província goza de ampla autonomia em relação a Roma. Os debates sobre o projeto de cidadania estão paralisados no momento, porque Viena pretende aguardar o resultado das eleições regionais em Trentino-Alto Ádige, previstas para o outono europeu deste ano.